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PREVENÇÃO CONTRA INCÊNDIO EM INSTALAÇÕES DE GLP

Até o final dos anos 30, a maioria da população brasileira usava o querosene e a lenha para cozinhar seus alimentos. O gás engarrafado não era conhecido no Brasil.

Foi em 1937 que Emesto Ingel, um imigrante austríaco radicado no Brasil, teve a ideia de introduzir o gás engarrafado no país.

Atualmente, este é o combustível utilizado por mais de 150 milhões de brasileiros. Sua rede de distribuição atinge praticamente todos os municípios, Hoje, o número de casas com botijões de gás é superior ao de residências com luz elétrica, água encanada e esgoto.

As empresas distribuidoras de gás atuam por meio de permissão do governo e têm uma grande responsabilidade com a população. Cabe a elas garantir o fornecimento regular e um produto confiável e seguro para os seus consumidores.

O gás liquefeito de petróleo (GLP) é um combustível formado pela mistura de dois gases extraídos dos produtos: propano e butano. Ele tem a característica de ficar em estado líquido quando submetido a uma certa pressão, vem daí o seu nome.

Em seu estado natural o GLP é inodoro. No entanto, o cheiro característico é adicionado a ele para que um eventual vazamento possa ser identificado.

Todo combustível é inflamável e, portanto, potencialmente perigoso. Assim como gasolina, o álcool ou o querosene, o GLP também pega fogo com facilidade ao entrar em contato com chamas, brasas ou faíscas. Se houver um grande vazamento em um ambiente não ventilado, o gás se acumulará no ambiente. Assim, qualquer chama ou faísca provocará uma explosão e, consequentemente, incêndio.

É importante saber manusear corretamente os recipientes, instalações e seus equipamentos, além de seguir os procedimentos de segurança em caso de vazamento.

O GLP é fornecido pelas companhias em botijões e cilindros transportáveis ou estacionários. Para ser seguro, um botijão de gás precisa ser fabricado de acordo com rigorosas normas técnicas. Deve passar por controle de qualidade cada vez que voltar às bases de engarrafamento e ser manuseado corretamente.

Um recipiente de GLP não deve ser aceito se apresentar pintura danificada, ferrugem, partes soltas ou outros danos. Neste caso, deve-se solicitar a imediata substituição por outro em boas condições de uso. Cabe às empresas engarrafadoras manter seus recipientes em boas condições de utilização e com a devida manutenção.

Os recipientes são fabricados com chapas de aço, conforme normas técnicas de segurança definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), sendo capazes de suportar altas pressões.

O GLP pode vir acondicionado em diferentes tipos de recipientes padronizados e que variam conforme a utilização e as necessidades dos consumidores.

O cilindro de 45 kg (P45) é usado em larga escala, em diferentes situações, tais como estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes, lavanderias, indústrias, hospitais, escolas etc.

O abrigo de botijões é construído em alvenaria, com cobertura de laje, fechado na frente por um portão com tela. O abrigo pode ter 2 (Figura 1.a), 4 (Figura 1.b) ou 6 botijões (Figura 1.c).

Figura 1 – Distribuição dos cilindros P45 no abrigo/Fonte: FDE

 

O abrigo deve estar localizado no exterior da edificação, em local ventilado, próximo de um acesso, preferencialmente onde não haja trânsito de pessoas. O abrigo também não deve estar perto de locais onde existam fontes de calor.

Além disso, o abrigo deve estar posicionado respeitando as seguintes condições:

 

  1. Afastamento de 1,50 m das aberturas, como ralos, canaletas e outras que estejam em nível inferior aos recipientes;
  2. Afastamento de 3 m de qualquer fonte de ignição, inclusive estacionamento de veículos;
  • Afastamento de 6 m de qualquer outro depósito de materiais inflamáveis;
  1. Não podem ser localizados sob redes elétricas, devendo ser respeitado o afastamento mínimo de 3 m da linha de sua projeção;
  2. Deve ser elevado do piso que o circunda, não sendo permitido que o mesmo esteja em rebaixos e recessos, pois pode haver acúmulo de gás em caso de vazamento.

 

Junto do abrigo devem existir placas de sinalização com os dizeres: PERIGO, INFLAMÁVEL e PROIBIDO FUMAR, conforme visto na IT 20/2019 (São Paulo) e ABNT NBR 13523:2019. De acordo com esta norma da ABNT, a tubulação deve ser obrigatoriamente pintada de amarelo, conforme visto na Figura 2.

Figura 2 – Sinalização da central de GLP/Fonte: FDE

 

Em hipótese alguma pode haver dentro do abrigo materiais combustíveis. O espaço também não pode ser usado para guardar qualquer outro tipo de produto.

Os acessos ao abrigo devem estar sempre desimpedidos, com os equipamentos de proteção contra incêndio (hidrantes/extintores) em funcionamento e com facilidade de acesso e operação. Para os hidrantes, o abrigo da central de GLP deve ser protegido por um dos hidrantes instalados na edificação e o mais próximo da mesma. Já para os extintores, a quantidade e a capacidade extintora varia em relação a quantidade de GLP existente no abrigo da central, conforme visto na Figura 3.

Figura 3 – Proteção por extintores em central de GLP/Fonte: IT 28/2019 (São Paulo)

 

O abrigo do P45 possui uma rede interna composto de um conjunto de tubos e válvulas esferas que interligam os botijões dentro do abrigo, conforme visto na Figura 4.

Figura 4 – Rede interna do abrigo do P45/Fonte: FDE

 

Em caso de manutenção da rede, nenhum botijão pode ser acoplado à ela, sob o risco de acidente grave.

A válvula esfera é específica para gás e serve para fechamento de fluxo entre o botijão e o restante da rede.

O regulador de pressão de primeiro estágio tem a função de reduzir a pressão dos botijões de 7 kg/cm² para a pressão de 150 kPa, que é a pressão de tráfego do GLP, em estado gasoso, na tubulação de rede primária.

O regulador deve ser confeccionado em aço e junto dele deve estar acoplada a válvula de bloqueio automático sobrepressão, que é um equipamento de segurança que interrompe o fluxo de gás sempre que a sua pressão excede o valor da pressão da rede primária, conforme a norma ABNT NBR 15526:2012 Versão Corrigida:2016.

A rede primária (150 kPa – alta pressão) é o conjunto de tubos, conexões e equipamentos compreendidos entre o regulador de primeiro estágio (inclusive o regulador) e o regulador de segundo estágio (exclusive). A pressão existente nesta rede não é compatível com nenhum equipamento de consumo, portanto nada deve ser ligado diretamente a ela.

A rede secundária (2,8 kPa – baixa pressão) é a rede compreendida entre o regulador de segundo estágio (inclusive) e o ponto de consumo (fogão), conforme visto na Figura 5.

 

Figura 5 – Rede secundária/Fonte: FDE

 

Toda tubulação da rede deve ser preferencialmente aparente para facilitar a detecção de vazamentos e diminuir as chances do GLP se propagar no interior de uma estrutura (alvenaria, subsolo, dutos ou redes de água pluviais). Toda a tubulação aparente deverá ser pintada de amarelo, conforme padrão 5Y8/12 do sistema Munsell, para identificar que o tubo conduz GLP, já visto na Figura 2.

Em locais onde possam ocorrer choques ou esforços mecânicos, as tubulações aparentes devem estar protegidas contra danos físicos para evitar que ocorram acidentes e, sempre que possível, devem estar localizadas fora do alcance das pessoas que transitam na edificação.

As tubulações aparentes da rede devem ter:

  1. Afastamento mínimo de 0,30m de condutores de eletricidade se forem protegidos por conduíte e 0,50m nos outros casos;
  2. Afastamento mínimo de 2 m de pára raios e seus respectivos pontos de aterramento.

 

As tubulações da rede não devem passar no interior de:

  1. Dutos de lixo, ar condicionado e águas pluviais;
  2. Reservatórios de água;
  • Poços de elevadores;
  1. Compartimentos de equipamentos elétricos;
  2. Qualquer tipo de forro falso ou compartimento não ventilado, exceto quando da utilização de tubos luva;
  3. Locais de captação de ar para sistemas de ventilação;
  • Todo e qualquer local que propicie o acúmulo de gás vazado;
  • Compartimentos destinados a dormitórios;
  1. Poços de ventilação capazes de confinar gás;
  2. Qualquer vazio ou parede contígua a qualquer vão formado pela estrutura ou alvenaria ou por estas e o solo, sem a devida ventilação.

 

O regulador de pressão de segundo estágio tem a função de reduzir a pressão da rede primária de 150 kPa para uma pressão compatível com a utilização do fogão, que é de 2,8 kPa.

A válvula de bloqueio automático por sobrepressão acoplada ao regulador de segundo estágio tem a função de interromper o fluxo de gás caso haja uma falha, evitando assim que o fogão fique submetido a pressões elevadas.

O regulador deve estar fixo para que não se movimente com facilidade e instalado em local que não tenha risco de impacto físico ou aquecimento.

O tubo metálico flexível de interligação entre o regulador de segundo estágio e o fogão deve atender à ABNT NBR 8613:1999, ou seja, ter no máximo 80 cm e não ser submetido a temperaturas superiores a 50ºC (este tubo é fornecido em conjunto com o fogão industrial).

O botijão de 13 kg (P13) é o mais utilizado no país, principalmente em fogões residenciais para cozinhar alimentos.

Para levar o gás destes recipientes até os fogões são utilizadas mangueiras ou tubos flexíveis metálicos normalizados.

classificação de riscosAs mangueiras são feitas em PVC transparente e têm uma tarja amarela na qual está gravado o prazo de sua validade, o código da norma de fabricação, a pressão de utilização, a expressão “GÁS – GLP” e a marca de conformidade do INMETRO – uma garantia de que foram fabricadas segundo os padrões técnicos de segurança.

O regulador de pressão, fabricado conforme a ABNT NBR 8473, é um dispositivo instalado nos botijões e serve para reduzir a pressão com a qual o gás sai do recipiente até o nível necessário para alimentação dos queimadores.

Os reguladores e as mangueiras têm vida útil de cinco anos a partir da data de fabricação, gravada em seu corpo. Expirado esse prazo é recomendada a sua substituição, conforme visto na Figura 6.

Figura 6 – Mangueiras e reguladores fora do prazo de validade/Fonte: FDE

O registro é o dispositivo que bloqueia o fluxo do gás do recipiente para o fogão. Ele deve permanecer fechado sempre que o gás não estiver sendo usado.

Para fixar a mangueira ao regulador e ao fogão devem ser usadas braçadeiras metálicas. Use sempre as braçadeiras que acompanham as mangueiras normalizadas.

Nunca devem ser utilizados arames ou outros materiais, pois isso pode danificar ou perfurar a mangueira, provocando vazamento de gás.

O cone-borboleta abre a válvula do recipiente e deixa passar o gás para o regulador. Sua adaptação à válvula do recipiente deve ser perfeita.

Nos botijões de 13 kg, a válvula que permite a saída do gás fecha automaticamente sempre que o cone-borboleta for desconectado.

Todo botijão, tanto o que está em uso quanto o da reserva, deve ficar protegido do sol, da chuva e da umidade, em local com ventilação natural, de preferência do lado de fora da edificação, conforme visto na Figura 7.

Figura 7 – Abrigo de GLP P13/Fonte: FDE

O botijão de gás nunca deve ser instalado ou guardado em local fechado, como armários, porões, banheiros etc.

As mangueiras devem ter entre 0,80 m e 1,25 m e nunca devem passar por trás do fogão, conforme visto na Figura 8. O calor danifica o plástico ou a borracha, derretendo e/ou provocando rachaduras e possíveis vazamentos.

Figura 8 – Posicionamento correto da mangueira do gás GLP/Fonte: FDE

Ao realizar a troca do botijão, para verificação de vazamento de gás após a troca do botijão, deve-se utilizar uma esponja com água e sabão sobre a conexão do cone-borboleta com a válvula, conforme visto na Figura 9. Se houver vazamento, aparecerão bolhas de ar na espuma do sabão.

Figura 9 – Procedimento de vazamento de gás após a troca do botijão/Fonte: FDE

Nas atividades de manuseio de gás GLP e instalação e/ou manutenção da central de GLP, as mesmas devem atender a procedimentos e recomendações de segurança.

No caso de vazamento devem ser realizados os seguintes procedimentos:

  1. Todas as válvulas devem ser fechadas;
  2. Interruptores ou disjuntores elétricos não devem ser ligados ou desligados;
  • Não fumar nem provocar qualquer chama;
  1. Não permitir a circulação de pessoas;

V    Contatar imediatamente o distribuidor ou empresa prestadora de serviço de manutenção.

 

É importante lembrar que, no caso de vazamentos, quando se tratar de GLP, este se acumulará em locais baixos.

Como o GLP é mais pesado que o ar ele se acumula a partir do chão, expulsando oxigênio e preenchendo o ambiente. Ele não é tóxico, mas tem efeito anestésico. Dependendo da quantidade, pode levar à asfixia.

O gás no botijão está sob pressão em fase líquida e no caso de vazamentos ele se vaporiza no ambiente, absorvendo calor nesta transformação. Em contato com a pele, o GLP na fase líquida pode causar queimaduras. Vazamentos de gás na fase líquida podem ocorrer sempre que o botijão for colocado na horizontal.

Quando há vazamento, a chama de um fósforo, a brasa de um cigarro, a faísca produzida pelo relê de geladeira ou pelo interruptor de luz elétrica são suficientes para provocar uma explosão no ambiente, provocando deslocamento de ar que pode destruir paredes e arremessar objetos a distância.

Na maioria das vezes há ocorrência de fogo, que se espalhará, gerando incêndios. Procure imediatamente utilizar os equipamentos de combate a incêndio e chame o Corpo de Bombeiros.

Ao receber um botijão, o usuário deve verificar se ele está em boas condições. Botijões amassados, enferrujados ou com defeitos devem ser imediatamente substituídos.

Deve verificar também se o lacre está intacto e se o nome da empresa gravado no lacre é o mesmo que está gravado no recipiente.

As empresas engarrafadoras devem se responsabilizar pela qualidade de seus botijões, mantendo-os em boas condições de uso e com a devida manutenção.

Os distribuidores clandestinos não respeitam as normas de segurança, oferecendo riscos aos usuários.

As instalações de gás também sofrem desgaste com o tempo. Para maior segurança, revisões periódicas devem ser feitas e a validade dos reguladores de pressão, da tubulação e demais equipamentos, verificada.

Instalações muito velhas, malfeitas ou que não utilizam os materiais apropriados podem resultar em vazamentos. Periodicamente as instalações devem ser avaliadas com equipamentos e mão-de-obra especializada.

Verificar sempre a validade de válvulas e reguladores. Ela nunca deve ultrapassar cinco anos. Porém as vistorias das instalações e seus equipamentos para manutenção e adequação às normas vigentes devem ocorrer em intervalos não superiores a dois anos.

A troca de cilindros, modificações ou reparos nas instalações de gás devem ser feitas apenas por empresas e profissionais habilitados.

Nas cozinhas, toda atenção deve ser dada ao registro de gás. Ele deve ser fechado sempre que o gás não tiver em uso.

Panos de prato ou outros objetos que possam pegar fogo não devem ser colocados junto do botijão, sobre registros, mangueiras ou perto de queimadores.

Manter os queimadores do fogão sempre limpos, lavando-os em fervura de água e detergente. Quando uma chama amarelada aparecer, limpar a parte de dentro dos queimadores ou solicitar a regulagem dos bicos injetores.

Queimadores não devem ser acesos quando estiverem molhados, pois a chama poderá sair irregular ou se apagar, provocando vazamento.

Ao cozinhar, nunca encher demais as panelas, pois ao ferver seu conteúdo poderá derramar, apagando a chama dos queimadores e provocando vazamento de gás. Além disso, manter sempre o cabo das panelas voltado para dentro.

Toda a rede de condução de gás sofre desgaste devido ao uso. Por isso, podem ocorrer problemas que exigem manutenção, como vazamentos e mau funcionamento. Deve-se solicitar inspeção técnica sempre que observamos um destes problemas na rede de gás.

Periodicamente as normas técnicas de segurança e de materiais são revisadas, sendo necessário adequar as instalações às novas regras. Sempre que houver manutenção, estas devem ser avaliadas e os componentes que estejam em desacordo com as normas ou com a validade vencida, substituídos.

Em períodos de no máximo dois anos é necessário aferir a conformidade das instalações com normas técnicas e legislação. Estas inspeções deverão ser feitas por empresas e profissionais habilitados que emitirão laudo técnico de inspeção, apontando as soluções necessárias.

Nas inspeções deverão ser verificados:

  1. A estanqueidade da rede (teste de estanqueidade);
  2. O estado da tubulação de condução do gás;
  • A validade e funcionamento dos equipamentos instalados;
  1. Dispositivos de segurança e adequação quanto às normas vigentes.

 

O laudo de inspeção deve ser acompanhado da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) do engenheiro responsável pela inspeção.

Caso o laudo de inspeção aponte problemas nas instalações, deverão ser providenciados reparos e adequações imediatamente.

Após a conclusão dos serviços, deve-se solicitar da empresa responsável o laudo de conformidade das instalações com as normas vigentes e fornecimento da ART dos serviços executados.

 

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT, Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 8473: Regulador de baixa pressão para gás liquefeito de petróleo (GLP) com capacidade até 4 kg/h. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.

___ NBR 8613: Mangueira de PVC plastificado para instalações domésticas de gás liquefeito de petróleo (GLP). Rio de Janeiro: ABNT, 2013.

___NBR 13523: Central de Gás Liquefeito de Petróleo. Rio de Janeiro: ABNT, 2019.

___NBR 15526: Redes de distribuição interna para gases combustíveis em instalações residenciais – Projeto e execução. Rio de Janeiro: ABNT, 2012 Versão Corrigida:2016.

FDE, Fundação para o Desenvolvimento da Educação. Manual de uso e segurança de instalações de gás, São Paulo, 2009.

SÃO PAULO, Corpo de Bombeiros, Instrução Técnica nº 20: Sinalização de emergência, 2019.

___Instrução Técnica nº 28: Manipulação, armazenamento, comercialização e utilização de GLP, 2019.

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